Quando João Ricardo foi confundido com um ladrão e preso, a mãe dele foi atrás de todo mundo. Conseguiu imagens de câmeras que comprovavam a inocência do menino negro. Tentou mostrá-las para policiais, promotores, juízes, jornais… Ninguém lhe deu atenção. Só quem aceitou ouvi-la foi um grupo de jornalistas que estava criando um jornal diferente de todos. Eles publicaram uma reportagem denunciando a injustiça praticada contra João e o menino foi solto dois dias depois. Nascia a Ponte Jornalismo.
A Ponte é um meio de comunicação que cobre a atuação do sistema de justiça criminal — a polícia, o Ministério Público, o Judiciário — do ponto de vista de quem sofre com sua ação no dia a dia, buscando ampliar as vozes de grupos tradicionalmente silenciados ao longo da história. As vozes dos becos e vielas, dos negros, das mulheres, da população LGBTQIA+, dos prisioneiros, dos indígenas.
Numa época que levanta cada vez mais muros, fazemos um jornalismo que busca conectar diferentes realidades. Por isso: Ponte.
A Ponte foi criada em 2014 por uma equipe de repórteres experientes e iniciantes que tinham em comum o cansaço com as narrativas jornalísticas que enalteciam a violência policial e transformavam negros, pobres e movimentos sociais em criminosos. Desde então, produzimos mais de 6 mil conteúdos, entre reportagens, livros e documentários, que denunciaram milhares de violações de direitos humanos e mudaram para sempre a vida de centenas de pessoas.
Para fazer um jornalismo investigativo a serviço dos direitos humanos, criamos um meio de comunicação sem fins lucrativos, que produz conteúdo gratuito e acessível a todas as pessoas, sem rabo preso com empresas ou governos. Nossa prestação de contas é aberta e os membros que nos financiam, os nossos grandes incentivadores.
Desde que foi criada, a Ponte ajudou a tirar da prisão uma centena de pessoas que haviam sido vítimas de prisões injustas. Fazendo um trabalho de investigação melhor do que o de muitos policiais, os repórteres da Ponte demonstraram como reconhecimentos mal feitos e flagrantes forjados, aliados ao preconceito contra negros e pobres por magistrados e policiais, levaram à prisão e condenação de tantos inocentes. Várias das nossas reportagens foram anexadas aos processos e influenciaram na libertação dessas vítimas, a maioria jovens negros.
Em um único caso, em 2018, a Ponte influenciou na absolvição de 18 ativistas detidos injustamente, ao revelar que a prisão havia sido armada com a participação de um capitão do Exército atuando ilegalmente como infiltrado.
“Pessoal, ajuda esse trabalho, que é um trabalho sério, é um trabalho que ajuda o pessoal da comunidade, assim como me ajudou e ajudou minha família, nos ajudou. Eu peço o apoio a todos vocês, que ajude o trabalho da Ponte.”
“Em busca da verdade sólida, mesmo: isso faz com que a Ponte seja esse veículo que traz confiança e transparência para a gente da periferia. A gente sabe que a gente vai falar e vai ser a nossa linguagem, vai ser a nossa verdade, vai ser a verdade dos fatos.”
Por conta do seu impacto, as reportagens sobre presos sem provas receberam o Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade da Prefeitura de São Paulo, uma das várias honrarias a reconhecer o nosso trabalho. Além dessa, a Ponte recebeu por duas vezes o prêmio Vladimir Herzog, principal premiação jornalístico do Brasil, foi finalista do Troféu Mulher Imprensa e no Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, além de receber menção honrosa no Prêmio Patrícia Acioli de Direitos Humanos e no Prêmio de Direito à Memória e à Verdade Alceri Maria Gomes da Silva.
E não só isso. Se hoje é possível ver, de vez em quando, reportagens em grandes veículos de comunicação falando em prisões de inocentes ou denunciando o racismo estrutural da polícia e da Justiça, saiba que muito disso se deve à Ponte, que foi pioneira ao trazer esse olhar. Mas ainda é muito pouco. Há várias histórias, como a de João Ricardo, que só são levadas a público porque a Ponte existe. É por causa delas que existimos — e que precisamos continuar a existir.